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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

@21-9-2011 VALOR DO MEDICO

Distorções no mercado de planos de saúde


Da remuneração da consulta médica:

Após a implantação do Plano Real, em 1994, ocorreu um congelamento dos honorários médicos pagos pelas operadoras de planos de saúde, que perdurou por muitos anos. Este fato foi atribuído ao fim da ciranda financeira, época em que as operadoras remuneravam seus prestadores de serviços com os lucros advindos da especulação.

Os valores praticados por uma consulta, em julho de 1994, giravam em torno de R$ 18,00. Segundo a ANS, a média paga em 2002, se situava em torno de R$ 23,00, elevando-se em 2007 para R$ 33,00.

Em agosto de 2009, o grupo UNIDAS estava pagando R$ 42,00, enquanto as operadoras de primeira linha (UNIMED e AMIL), pagavam R$ 50,00. Estas concordaram com um valor de R$ 54,00 para consulta, a partir de setembro de 2009. Por outro lado, a UNIDAS propôs R$ 44,00, reajuste de apenas R$ 2,00. A diferença que era de 19,05% aumentaria para 22,73%.

Se levarmos em conta o valor proposto pela UNIDAS, o reajuste da consulta médica sofreria um incremento de 144,44%, em 15 anos. Em contrapartida o reajuste das operadoras de primeira linha (UNIMED e AMIL) alcançaria 200%. A defasagem entre os valores praticados aumentaria, causando um desequilíbrio econômico financeiro a ser suportado pelos médicos.


Das variações dos índices inflacionários e econômicos de julho de 1994 a agosto de 2009:

Observando os diversos índices inflacionários no período, constatamos que todos foram bem superiores aos reajustes concedidos aos médicos.

IPC-Saúde FIPE = 333,02%
INPC = 256,92%
IPCA = 247,45%
Reajuste do Salário Mínimo de 01/07/1994 (R$ 64,79) a agosto de 2009 (R$ 512,67) = 691,28%

 
            A paralisação do atendimento no dia 21 de setembro visava chamar a atenção da sociedade e dos pacientes para a falta de reajuste nas tarifas pagas aos médicos. Sem o atendimento a idéia seria fazer pressão para o reajuste de valores pagos hoje em relação aos honorários médicos. Entretanto, economicamente apenas os planos tem a ganhar, pois as consultas médicas que seriam faturadas aquele dia de paralisação não serão pagas. Duvido que no mês de setembro se alguma operadora de planos de saúde  repassou o valor de desconto por 1 dia de paralisação a seus  clientes. No final do dia os planos mantém seu dinheiro, ganham apenas algumas reclamações e realmente nada de efetivo a favor da classe médica pode ser comemorado. E permanece o cartel de planos de saude.







Segue um Texto de outro medico.

    Médicos e cabeleireiros

  
    - Como está agora?
    - Bem melhor.
    - Precisa cuidar direitinho. Tome cuidado, ok?
    - Pode deixar.
    - Te vejo no mês que vem?
    - Com certeza.
    - Quer deixar marcado?
    - Melhor não. Não quero prender seu horário. Depois eu ligo e marco
com mais certeza.
    - OK. Até lá!
    - Até...

    Este foi meu último diálogo com um profissional que vejo quase todos os meses. Felizmente, não sofro de nenhuma doença crônica que precise de acompanhamento periódico. Nem tampouco sou hipocondríaco ou faço exames regulares com receio de algum mal maior. Este foi apenas um fragmento de conversa com o profissional com quem corto o cabelo há mais de 10 anos.
    Saindo do salão deixei um cheque no valor de R$ 40,00 referentes ao corte e mais 10% de gorjeta, como meu pai me ensinou: 'Filho, estes profissionais ficam bem mais motivados a trabalhar, se você demonstrar satisfação'.
    Chegando ao consultório me deparo com uma situação constrangedora onde uma paciente recusava-se fornecer seu cartão do plano de saúde para ser feita a cobrança junto à seguradora, pois alegava que era retorno de consulta, onde ela apenas teria vindo para mostrar os exames que eu pedira há 2 meses atrás.
Para contornar a situação, acabei orientando que não fosse feita a cobrança e que a atenderia assim mesmo. Afinal, poderia dar a impressão que eu estaria sendo mercenário ou que minha atitude não era digna de um médico com mais de 20 anos de formado.
    Ao deitar para dormir à noite, algo me inquietava e afugentava o sono.
    Eu pagara R$ 44,00 ao cabeleireiro e, no mesmo dia, tivera recusado pela paciente uma cobrança de R$ 34,00 referentes a uma consulta médica para avaliar alguns exames, que me orientariam na conduta frente a um diagnóstico de câncer e sua possibilidade de cura.
    No mês seguinte, voltei ao salão para cortar o cabelo com um pouco menos de entusiasmo. Considerando o investimento em formação técnica e profissional, proporcionalmente, se eu recebo R$ 34,00 por uma consulta, deveria pagar não mais do que R$ 5,00 para cortar o cabelo.
    Conversando com o Lúcio, ele me dizia que fizera um curso de 1 ano em escola de cabeleireiros, que vai anualmente a congressos para conhecer novas técnicas, novos produtos e se atualizar nos cortes da moda. Disse que tem que trabalhar até as 20 horas e também aos sábados. Realmente fiquei orgulhoso
em saber que meu profissional é um sujeito atualizado.
    Novamente a inquietude me tomou de assalto e não pude deixar de me comparar ao Lúcio. Certamente ele não tem curso superior. Nem tampouco pós-graduação. No entanto, isto não o faz uma pessoa menor. Maneja muito bem a tesoura e a máquina e dá o que o cliente quer: satisfação. Valoriza seu trabalho e investe na profissão.
    Voltei a pensar em mim.
    Ele está certo. O que motiva então esta comparação entre um médico e um cabeleireiro? Vejamos: ambos temos clientes. Os dele são mais fiéis do que os meus, pois os meus vieram até mim por intermédio do livrinho do convênio.
Os dele são 100% particulares. Nós dois cuidamos da saúde das pessoas, claro que ele cuida dos cabelos e eu do resto. Vestimo-nos de branco impecavelmente.
Manejamos a tesoura com habilidade. Está certo que as estruturas que eu corto, normalmente, sangram e doem, mas temos que ter certa habilidade para tanto.
Em alguns momentos usamos luvas e máscaras, para nos proteger e até proteger o cliente. Trabalhamos bastante. Às vezes temos que atender em 15 minutos,mas normalmente damos conta do recado, neste período. Precisamos de
infra-estrutura como pias, cadeiras, telefone, secretária, agenda, café, revistas, sala de
espera, etc. Pagamos impostos sobre o serviço realizado. E quantos...
    E nossas diferenças? Bem, fiz a faculdade em 6 anos, após muito estudo
para enfrentar um dificílimo vestibular. Diploma em mãos, foi pra gaveta, pois nova prova era necessária para fazer uma especialidade, desta vez com funilainda mais apertado. Mais 3 anos se foram. Aos meus 27 anos de idade, eu havia passado 1/3 deles na Santa Casa de São Paulo. Daí comecei a trabalhar como plantonista, diarista, funcionário e até professor, para finalmente montar meu próprio consultório. Clientes particulares não existem para médicos pobres mortais da minha geração. Devem estar sendo cuidados pelo IBAMA, para ver se se reproduzem em cativeiro.
    O jeito é fazer alguns convênios, pois hoje ninguém que tenha algum recurso financeiro quer ser atendido pelo SUS. E, a julgar pelas moças bonitas e pelos homens de meia idade esbanjando saúde que aparecem nas propagandas, o plano de saúde deve ser uma maravilha. Descobriram a fonte da juventude !
    Na outra ponta estamos nós, médicos de meia idade, recebendo valores que variam de R$ 18,00 a R$ 42,00 por consulta para decidir sobre a sua saúde, caro leitor.
    E você achava que seu médico ganhava bem, né ?
    E os Pediatras, Clínicos, Reumatologistas, Pneumologistas,
Cardiologistas que não fazem cirurgias ? Ganham o quê ? Consultas e apenas consultas...
    Detalhe importante: cada vez que eu vou ao Lucio, eu pago. Se o
paciente voltar em menos de 30 dias, o convênio não paga. Se vier uma ou dez vezes em um mês, o médico recebe apenas uma consulta. E aquela paciente não quis me deixar cobrar uma nova consulta após dois meses, para ver seus exames. Duas
consultas por R$ 34,00 sai em média R$ 17,00 cada uma, fora os impostos.
    No salão do Lucio também tem manicure e pedicure. Mão e pé sai pela bagatela de R$ 30,00, mas eu não faço lá. As mulheres gastam bem mais em seus cabelos com tinturas, escovas, banhos de óleo, chapinhas, etc e nada disso ai por menos do que..... uma consulta médica. Não que não devam fazer. Acho que devem se cuidar, se enfeitarem e serem vaidosas, com moderação. Apenas quero alertar para o conflito de valores. Nem vou comentar sobre preço de depilação sob pena de entrar em profunda depressão.
    Outros serviços, como 'quick massage', tem se popularizado nos
shoppings. Meia hora por R$ 30,00. Sem impostos, recibos, notas fiscais, títulos de especialista, vigilância sanitária, conselho regional, associações de classe, sindicatos e convênios. E se voltar no dia seguinte, paga de novo.
    Enfim, existe o problema e muitos médicos têm vergonha de falar sobre isto. Alguns querem manter a pose de ricos e bem sucedidos, quando na verdade estão mesmo é falidos.
    Eu deixei de atender convênios e parei de ter insônia por este motivo. Agora o motivo é outro: como vou fazer para pagar minhas contas, se todos os pacientes querem passar com o 'médico do convênio' ?

    Dr. Alexandre Hamam

 
 



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